quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Tragadas de Realidade: Parte 1

Acordou como em mais uma manhã comum, sente sua dor de cabeça perto da insanidade, mas não se sente mal, pelo contrario, sabe que todo dia é igual a outro que estar por vir, e que sua historia é entediante o suficiente para não ser contada por ninguém.

Nunca gostou de expectativas, talvez por isso tenha saído de casa na primeira oportunidade viável

- Esses dois aí esperam que eu tenha o que nunca tiveram.

Não se importava com casa, carro, nem dinheiro no banco, para ele apenas uma garrafa de whisky e uma carteira de camel já lhe bastavam. Chegava do trabalho cujo odiava tudo, menos seu salário, encontrava seu apartamento quarto e sala da mesma maneira que deixou de manhã, não confiava em empregados, e procurava alguma garrafa espalhada pela casa. Bebia pra ver uma realidade mais tragável, onde os homens fossem mais humanos e as mulheres menos vulgares.

Não se considerava depressivo. Ser depressivo é coisa pra gente rica, pensava. Considerava-se mais um observador, um homem do espaço que veio estudar a raça humana e seus inúmeros defeitos, um boêmio inveterado cuja sua única função era perceber e lamentar-se. Sempre gostou de sua varanda no oitavo andar, se sentia seguro e poderoso com seu cigarro, onde cada tragada era um sinal de fumaça de seu novo líder, que ostentava seu poder no alto de sua torre intransponível. Nunca chegou a conhecer realmente seus vizinhos.

- Sorrisos frios e tapas nas costas são o mesmo de sexo pago, nível mínimo de intimidade e altamente ético.

Gostava de imaginar o que essas pessoas faziam, nas suas vidas, profissões, na intimidade. Hoje em dia qualquer homem de maleta é doutor, pensava.

Os momentos que seus cigarros se esgotavam eram sem dúvida os mais penosos. Nunca gostou muito de caminhar, muito menos de ter que falar com as pessoas, achava que suas vidas poderiam ser mais entediantes e sem sentido que a sua, e de certa forma se sentia superior elas, pobres pessoas que não enxergam a realidade, que vivem de pão e circo, que com suas míseras vidas buscam maneiras de suportar a mediocridade cotidiana. Sentia-se mal por esses pensamentos,

- Um homem não deve criar estereótipos, estou parecendo um ‘‘deles’’.

‘‘Eles’’ ainda não se sabe quem são ainda, mas com certeza descobrirá um dia no auge ou no declínio de sua vida sem expectativas.

Seu nome é Vinicius, e não sabia muito bem onde estava, ou onde iria chegar, preferia não pensar em futuro, é melhor ter uma surpresa que uma decepção. Faltava-lhe confiança, nunca se achou atraente ou persuasivo, talvez por suas péssimas histórias de amor, ou por falta de convicção que aflige aqueles que pensam demais. Não era alto nem baixo, gordo nem magro, o cúmulo da normalidade física, e da excentricidade pessoal. Sempre se escondeu atrás de seus volumosos cabelos cacheados, gostava deles, e principalmente da imagem misteriosa que lhe proporcionava, combinada com seus vícios. Que me matem no dia que usar cabelo curto com camisa pólo, imaginava.

Tinha poucos amigos, não por repudiar a amizade, mas sim as pessoas. Gostava de ir para a praia com eles, Fábio e Bruno, especialmente em dias nublados e vazios. Conversavam durante horas sobre mulheres, ideologias e futebol, não necessariamente nessa ordem, e sempre no final admitia que cerveja combinava com praia. Durante uma dessas tardes Bruno os convidou para a despedida de uma amiga sua, que iria fazer intercambio na frança, os outros aceitaram numa boa,

- Bebida de graça empolga qualquer alcoólatra - falavam.

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