quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Tragadas de Realidade: Parte 2

Chegando a tal despedida, Vinicius se sentiu confortável, usava sua camisa xadrez vermelha, a que usava em aniversários, casamentos e feriados, era umas das poucas que levantava sua alto estima. Gostava de festas pequenas, pouca gente e álcool em abundancia, certamente era onde se sentia confortável. Por sua timidez, não tomou a iniciativa de conhecer ninguém novo, muito menos a viajante. Procurou um bom lugar para acender seu Camel, não gostava de incomodar as pessoas com seu vicio. Quando encontrou o seu canto ideal, teve uma visão nada agradável: era Raul, jovem que se estranhava desde seus 14 anos, que roubara dois de três relacionamentos sérios, não suportava ver sua arrogância e inteligência limitada, nunca entendeu o que as mulheres que o trocaram por Raul pensavam, achava que nunca iria entender as pessoas. Acendeu seu cigarro tranquilamente e encostou na primeira pilastra que avistou, seus amigos estavam com seus respectivos grupos, achava tudo aquilo muito superficial.

Raul conversava com uma bela garota, talvez a mais bonita que via há algum tempo. Como bom observador, notou a garota não estava interessada pela conversa e que seria um pouco mais feliz com menos infantilidade ao seu redor. Esse é o meu momento, pensou. Não se sabe qual a motivação da cena que se segue, por uma paixão repentina, ou por um sentimento de vingança e raiva, só se sabe que atitudes emocionais podem dar muito certo ou muito errado, nunca no meio termo. Vinicius se aproximou devagar e confiante, abriu um sorriso, talvez sua maior qualidade, e abraçou sua nova ‘‘paixão’’, que relutou por um instante, mas com a possibilidade de se livrar de Raul incorporou o personagem.

- Oi amor, por que demorou tanto?

- Tive que parar para comprar cigarro, você sabe como eu odeio essas pessoas que ficam me pedindo.

Seu oponente se retirou, sem entender nada, ou a interpretação foi realmente boa, ou era realmente lerdo, o que importa é que o primeiro passo tinha sido um sucesso, e que sua imensa barreira de timidez e insegurança tinha sido quebrada graças a um sorriso gentil.

Diante da situação, sua única reação foi a da gargalhada, talvez por nervosismo ou por achar a situação cômica, o fato é que não parava de sorrir.

- Você nunca para de rir?! – perguntou a garota

- Isso raramente acontece comigo, acho que sua presença realmente afeta meu jeito – disse Vinicius apreensivo com a reação que viria.

Depois de alguns segundos de profundo silêncio, ela se manifesta

- Você não vai perguntar o meu nome? – perguntou correspondendo seus tantos sorrisos com outro.

Um sentimento quente firmou no coração de Vinicius, sabia que tinha nascido alguma coisa boa dali, que seus dias entediantes não seriam mais assim, que sua falta de expectativa seria finalmente recompensada, que sua vida tinha mudado naquele instante, por destino ou acaso, por sorte ou futuro azar.

Segurou a mão amorosa com carinho, e disse que seu nome era Vinicius. A menina respondeu à investida pedindo para chamá-la de Bela, que era como seus amigos à chamavam. E dessa maneira começaram a conversar sobre os mais diversos assuntos que não se conversa quando se conhece, falavam sobre seus pais, sobre como queriam seus filhos, sobre como seria seu parceiro ideal, sobre a maneira que gostavam de olhar nos olhos de alguém e ver uma verdade, e sobre como deve ser se apaixonar de novo. Sabiam que algo acontecia entre eles e em nenhum momento alguém pensou em sair.

Bela era sem dúvida linda, cabelo curto chegando aos ombros, escuro e liso, e uma estatura no máximo mediana, mas depois que a conhecesse perceberia que sua personalidade fazia parecer uma mulher alta. Era tímida, mas nem por isso deixava de conversar e mostrar o que pensava, era firme e madura, mas ao mesmo tempo gentil e carinhosa. A maneira como arrumava sua franja era de longe a cena mais espetacular que já vira.

Vinicius começa a olhar fixamente para os olhos de Bela, sente uma vontade gigantesca de um beijo, ou qualquer demonstração de afeto. Aproxima-se de maneira sutil e mais uma vez segura a sua mão, entrelaçando seus dedos com os dela, sentia-se bem no momento. O momento do beijo tinha chegado.

- Acho que não agüento mais olhar pra você sem te dar um beijo – não soube bem se falou ou pensou, e se aproximou ainda mais de sua face.

Bela se ficou na ponta dos pés, e em um movimento demorado, deu um beijo no rosto de Vinicius, aquele momento durara uma eternidade de prazer nos dois, e falou:

- Tenho que ir, caso contrario vou perder o vôo.

E foi, deixando Vinicius com o coração mais uma vez amargurado, e se sentindo mais uma vez um covarde por não ter beijado um prematuro amor. Finalmente ele começou a entender o estava acontecendo, a tal amiga de Bruno era Bela, e o destino mais uma vez deu uma rasteira em um rapaz que não acreditava nele.

Vinicius pegou a primeira garrafa de Whisky que viu, e começou a afastar a dor com álcool. É o que os homens fazem, seu pai dizia. Acendeu mais uma vez seu cigarro, e percebeu como sua vida era sem sentindo, não sabia o que lhe aguardava o futuro mas com certeza não seria nada demais.

De longe, via Bela se despedindo dos outros, se sentiu importante pois sabia que ela passou grande parte de sua despedida com ele, e que talvez ela não achasse nada daquilo tão importante assim. Desviou seu olhar para seu copo de whisky, o único amigo que te conforta e te mata ao mesmo tempo, e quando levantou seus olhos, está bela a 2 metros de distância, e um salto da o beijo mais espetacular que já presenciou, era calmo e ardente, era suave e apaixonado, era uma explosão de sentimentos em apenas um ato. Após o beijo, bela sussurrou em seu ouvido:

- Te vejo daqui um ano.

E saiu levando suas malas numa mistura de felicidade e tristeza. Sabia que veria Vinicius mais uma vez.

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